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sábado, 18 de agosto de 2012

FILE: o incrível festival que encolheu


A 13ª edição do FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica acontece em São Paulo, entre os dias 17 de julho e 19 de agosto, no Centro Cultural FIESP - Ruth Cardoso. Ou seja, ainda dá tempo de ir ver se achar que vale a pena.


Bem, o FILE sempre se apresentou como um festival de arte em novas mídias. Mais precisamente, como registra o Wikipedia "é o maior festival de arte e tecnologia no Brasil, e serve como indicador da pluralidade de pesquisas e de produções nacionais e internacionais nas múltiplas áreas da cultura digital: arte interativa, screenings, performances, games, arte sonora, realidade virtual, discussões teóricas e o cinema digital". Que ele nasceu assim, não tenho dúvidas! Mas que ele permanece com essa configuração e essa relevância tenho lá as minhas hesitações (e não é de hoje)!

A discussão entre a fronteira da arte e a pirotecnia tecnológica não é nova. Já em 2006, Paula Perissinoto, organizadora do Festival, lembrava que "[n]essa área, há momentos em que os artistas se perdem na pirotecnia tecnológica. Às vezes, dá certo juntar a pesquisa estética e a tecnológica, neste ano, isso está mais amarrado" (aqui). Mas se em 2006 eles tinham a preocupação de manter a pesquisa estética e a tecnológica amarradas, esse ano eles definitivamente abriram mão do primeiro e o festival se consolidou como uma reunião de macaquices para o espectador. Uma Disney tecnológica desprovida de qualquer preocupação discursiva ou artística.

Tanto é assim que o catálogo, na maioria das vezes, se resume a descrever as obras, explicando os mecanismos técnicos e raramente mencionando propostas. Predominam as obras de interação banal de incluir rostos dos telespectadores em obras de arte famosas e em quadrinhos, ou que nos permita refazer Van Goghs.

A área de Games tornou-se uma coletânea de protótipos invendáveis de versões de games conhecidos adaptados a referências artísticas. Talvez o "Nous", de Pohung Chen mereça uma menção especial pela abordagem da questão identitária e de usar a interação do jogador como um elemento essencial na sua (da identidade) concretização. De resto, recomendo aos artistas conhecer Gilbertto Prado e seu Desertesejos, de nada menos que 12 anos atrás. Gilbertto Prado, aliás, que esteve presente na última Campus Party, que não recebe um quinto de festejo que o FILE tem no mundinho das artes e que está se apresentando muito mais relevante em termos de realização e discussão estética.

São poucas as instalações que propõe mais do que desenvolvimentos tecnológicos, como talvez seja o caso da valise de memórias Sin titulo, de Pamela Cuadros (Chile), o Stressato: Sweeping Spiral, de Jean-Pierre Gauthier (Canadá) e Túnel, de Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti (Brasil), mas quando a proposta como um todo abandona a preocupação com o pensamento, ao espectador menos atento fica até difícil perceber essas preocupações perdidas.

No fim, refiro-me ao trabalho SaveMe Oh (Holanda) In search of art, que é assim descrito no catálogo do festival "SaveMe Oh está buscando arte em um mundo digital. Será que conseguirá encontrá-la?". Sugiro a SaveMe Oh procurar em outros lugares... Há muita arte digital por aí, mas não onde SaveMe Oh está procurando!

Em resumo: esse é o último final de semana do Festival, minha recomendação é que perca seu sábado e o seu domingo na fila do Caravaggio e dos Impressionistas. Não acho impossível juntar arte e tecnologia, mas no caso dos dois caminhando separados, prefira a arte do que a feira de ciências.

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