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sábado, 15 de março de 2014

Exposição: Renan Marcondes: Formulações ao insuporte, na Kunsthalle


Uma vez escrevi sobre o trabalho do Renan que nele residia uma racionalidade cartesiana, uma busca por existir autonomamente através do próprio pensamento. Esse escrito faz tempo, mas a essência do trabalho do não se perdeu.

Muito ao contrário, deu um salto, um passo à frente no percurso do trabalho, aprofundando mais  as questões de autonomia.

Renan talvez tenha transcendido a necessidade de  conhecimento para constituir uma individualidade que estava antes tão presente nos trabalhos anteriores - às vezes representados pelos seus signos mais evidentes, como o livro, o papel, a grafite; às vezes em virtude de referências no título a questões específica desse campo. Talvez tenha resolvido entregar-se a esse mundo do possível e “aprender de que maneira sujeitos e objetos podem se tornar menos sujeitos e menos objetos e mais coisa”(LEPECKI, 2012, p.96).

Mas não perdeu, absolutamente, sua busca por um raciocínio lógico e pela precisão; internalizou-o. Assim como continua buscando uma definição para si, para seu corpo. Levou a precisão para o íntimo do seus ensaios da construção do seu trabalho, enquanto liberou-o para experimentar e também ser experiência para seu espectador. O que vemos é um desafio do corpo, num questionar-se, desafiar-se em trabalhos braçais e repetitivo que afetam diretamente corpo e discurso, desconstruindo qualquer utilidade e encontrando outros usos e outras possibilidades desvinculados do ordinário. Isso também faz parte da busca de sermos outros que não os mesmos, de irmos seguindo em frente nas possibilidades que se nos abrem: é o abraço ao descentramento da falta da estrutura contemporânea sem cair na facilidade do cinismo. O trabalho é, enfim, ainda propositivo e desafiador da incessante busca humana pela sua própria essência, agora, ainda, com a liberdadede encontra-la onde quisermos.

Entendo ser importante e fundamental a apresentação de questões na arte dentro dessa contradição ou paradoxo que é moto do debate e não que seja o paradoxo em si. Essa dualidade lógica-ilógico/ racional-sensível acho que é algo que seja enriquecedor e o trabalho é rico por isso: pela busca incessante pela construção de um discurso coerente que demonstre um avanço na própria constituição e composição das identificações humanas.

Sobre o trabalho do Renan, tem fotos aqui e vídeo aqui.

Sobre a Kunsthalle, vejam aqui.