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sexta-feira, 20 de abril de 2012

Exposição: Cláudio Manculi: Movimentos da Caixa Preta




Hoje em dia, todo mundo tem uma câmera e o Instagram instalado no telefone. Mas o que é - e o que pode - efetivamente uma fotografia?

A idéia de que a imagem representa/ registra o mundo é muito mais velha que a própria fotografia: a humanidade já fazia isso nas paredes da caverna... Para piorar, a imagem técnica emancipa a sociedade de pensar conceitualmente (já que a representação é idêntica à coisa representada, não há conceito, abstração ou ressignificação). Assim, todo o dia, quando fotografamos inadvertidamente com os nossos celulares, não estamos criando nem pensando. E por mais tecnológico e de última geração que seja a nossa câmera, não fazemos mais do que os homens das cavernas. Estamos, às vezes, fazendo até menos, jogando um jogo exatamente como ele foi proposto. É o exibir-se vazio e contemporâneo, típico das redes sociais, contaminando o olhar.

Mesmo quando o fotógrafo, agora com esse nome, preocupa-se tecnicamente com o resultado e sabe manipular e programar a sua máquina fora do "manual", nem sempre ele age autonomamente. E, muitas vezes sem perceber, passa simplesmente a repetir a imagem existente no mundo, sem conceitos, sem pensar. Sim, para a autonomia da imagem o próprio fotógrafo deve atingir uma emancipação cultural de modo a ir além das intenções pré- determinadas dos objetos, também lançando luz sobre a descoberta de novas visões através de um ato conceitual. É isso o que diz Vilém Flusser, filósofo da fotografia que inspira o Cláudio e cujo livro dá nome a essa exposição.

Nas fotos aqui expostas, distorcidas, desfocadas, rabiscadas, duplicadas, é a vitória do Cláudio sobre o aparelho, seja ele a máquina digital mais bambambam ou seja a que ele mesmo fez, com caixas de fósforo e filme. Muito embora, a primeira vista possa parecer o contrário. Não se tratou aqui, em momento algum, de acaso cego e as fotografias aqui expostas, em última instância, são, na verdade, resultado de uma produção consciente na discussão da própria fotografia e na problematização dos seus elementos-chave dentro da produção fotográfica, tal qual Flusser almejou.

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Fotos aqui

A produção da noite contou com Leonardo Muniz, Matteo Papaiz e Igor Pimenta fazendo um Tributo ao Ornette Coleman.

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